Habitando a casa de seu Ser


A capacidade de estar bem consigo mesmo e com a vida, não importa o que aconteça, sempre esteve ai dentro. Talvez seja apenas um fio d’água do qual você mal se dá conta, mas esta La apesar de tudo. Se você é como a maioria das pessoas, vive quase que exclusivamente dentro de uma história em sua cabeça. As nuvens de pensamentos que ali rodopiam não eliminam a sua conexão consigo mesmo, mas a ocultam, impedindo-o  de ser simplesmente quem você é. Enquanto permanece aprisionado nessa historia, não percebe que, por baixo dos milhares de pensamentos aos quais dedica atenção, existe um mundo onde é possível acreditar em si , acreditar na vida e sentir a alegria de sua própria natureza.
Por que quando somos jovens estabelecemos uma conexão tão profunda da vida, mas quando adultos nos sentimos vivos pela metade. A melhor maneira de entendermos esse enigma é imaginarmos uma casa esplêndida, arejada, cheia de luz e risos. Essa é a casa de seu ser. Quando você vivia ali totalmente receptivo, vivia em seu próprio corpo, escorado no porão de seu ventre, e a energia da vida fluía livremente por você. Os andares de cima eram o território de seu coração e todas as portas e janelas estavam abertas para a vida. Seu coração era tão vigoroso que, a cada batida, bombeava para cada recanto de seu ser a alegria de amar a si mesmo e  a vida. E o sotão de sua mente , era um lugar maravilhoso, repleto de imaginação e curiosidade. Você conseguia simplesmente se apresentar para a aventura da vida. Em vez de tentar transformá-la no que acreditava que ela deveria ser.
Como estava receptivo, tudo o tocava profundamente. Lembra-se de admirar com deslumbramento as nuvens que dançavam para você. Lembra-se do balé das partículas de poeira, iluminadas pelos raios de sol que penetrava no quarto?
Alegre por viver em seu corpo e por estar em contato com sua verdadeira natureza ( quando dizia ¨Eu sou!!) era o bastante ou seja era melhor que o bastante, pois você era puro(a) ou simplesmente você. Não precisava reprimir sentimentos. Nenhuma parte da casa lhe era vedada. Você ainda não acreditava que precisava ser diferente para receber o alimento e a atenção necessários a sobrevivência.
Isso não duraria muito tempo.
Na juventude, além de você estar receptivo a alegria de viver a vida, você também estava vulnerável às ações das pessoas a seu redor, ( pais, irmãos, tios, avós, professores, vizinhos e outros.) começaram a influenciá-lo  A vida os ferira e eles transferiam os ferimentos para você. Mesmo com pais amorosos isto acontecia.
Ninguém o ensinou a ser receptivo na presença da dor. Para sobreviver , você aprendeu a fechar partes de si mesmo, a conter o fôlego e a contrair o corpo. Cada vez que o fazia, tentando negar o que estava acontecendo, colocava mais uma parte de si em uma caixa, que escondia num quarto na casa do seu ser. Na porta de cada quarto, fixava um cartaz que dizia: ¨Não Abra. Embaixo dessas palavras escritas em letras pequenas, o aviso: Este quarto esta repleto de maus sentimentos. Mas mesmo atrás de portas fechadas, aqueles sentimentos ainda influenciavam sua vida. Logo todos os quartos da casa estavam ocupados e você era obrigado a levar alguns para o porão, na esperança de que não mais atormentassem. Eram os  que continham aquilo que você mais temia raiva, terror e desespero.
Mas nem tudo está perdido.
Mesmo que tenha conservado certa lembrança de um dia haver ocupado a casa inteira, com a luz e os risos que inundavam, os filmes de sua mente eram bons o bastante para compensar as perdas. Assim as coisas permaneceram em equilíbrio por algum tempo. Quando se desestabilizaram você teve a primeira experiência de tentar recriar a alegria que conhecera, quando estava ligado a si mesmo e a vida. Talvez tenha sido com o copo de vinho que transformou  seu corpo em fogo líquido, ou com o profundo relaxamento depois de comer um alimento proibido, ou com a felicidade da orgia de compras, ou pela empolgação de ganhar no jogo. Ações como essas eram apenas sombras das sensações maravilhosas que experimentou quando ocupava a casa inteira. Mas como a casa toda não estava disponível, davam a impressão de substituir a antiga satisfação.
Incapaz de ser quem era, você passou a imaginar quem poderia ser. Não notou que deixara o mundo maravilhoso do Eu sou, que conhecera quando criança em troca do mundo do Eu não sou, Eu serei.
Agora uma corrente de descontentamento, tédio e desespero silencioso moveu-se dentro do seu ser, mas você fez força para não notar. Como estava desconectado do alimento de seu coração. Você tentou encontrá-la em novos relacionamentos, gastando dinheiro,fazendo ginástica para melhorar a aparência, dirigindo seu carro mais luxuoso, etc. Isso o levou a procurar terapias, aulas e religiões, na esperança, de que, consertando o que estava errado, tudo ficaria bem.
Tais atividades são em si boas. Mas mesmo que você alcance seus objetivos, entenda de onde vem a dor ou aprenda a dizer vinte vezes por dia que é uma pessoa radiante e pacífica.Elas nunca serão o bastante. Sempre haverá um vazio essencial que não pode ser preenchido por realização alguma. A profunda paz oferecida pela satisfação com o que se tem, só será alcançada quando você retornar a seu próprio corpo e voltar a ocupar toda a casa do seu ser.

Marcos Airosa

Comentários

BLOGZOOM disse…
Marcos, voce escreveu isso para mim?! Estive no su divã?! Nem me recordo! rssss Agora todo mundo vai saber como me sinto!!! Acho que me fechei numa concha para me proteger, para encontrar o caminho da alegria e me energizar. Contudo, realmente é perigoso, podemos nos viciar e não saber como sair do fundo do mar, do labirinto dos pensamentos sonhadores. No meu caso, não sai para compras, nem gastanças, etc, eu me tranquei dentro de mim.
Jackie Freitas disse…
Marcos, meu anjo amigo!

Lindo, lindo!!! Simplesmente maravilhosa essa sua visão espiritualizada. Percorri cada cômodo da casa e revi muito do que você escreveu! Meu bloqueio era subir ao sótão, mas hoje o visito de vez em quando e a cada visita tento organizar as caixas, limpar as teias de aranhas, afugentar o pó...Há muito o que ser limpo, mas já consigo vislumbrar um fecho de luz e isso, de alguma forma, faz renascer a esperança de que o espaço antes ocupado por amontoados, está cada vez mais amplo e estou podendo transitar melhor...Isso eu acho que é evolução.
Na vida temos o hábito de classificar as coisas, situações e sentimentos. Guardamos em caixas e arquivamos, mas a qualquer momento nos deparamos com elas pelo caminho, dificultando a nossa passagem pelos demais cômodos! Isso tudo que você escreveu está PERFEITO!!! E não adianta "contratar" uma faxineira! Somente nós sabemos o destino de cada caixa e que destino dar a cada coisa guardada nelas. Algumas podemos reaproveitar, reformar, dar uma roupagem nova; porém outras, por mais que haja o apego sentimental, precisamos nos desfazer...Essa hora de faxina somente a nós pertence!
Bem, querido...rsrs...acho que você percebeu que eu AMEI isso aqui, né?
Mas vou parar e depois continuamos essa deliciosa reflexão, pois sei que você publicará muitas ainda!
PARABÉNS com louvor pelo maravilhoso texto!
Grande beijo,
Jackie
Silvana Marmo disse…
Olá Marcos,
A mente é criativa, e todas as condições, ambiente, ou experiências da nossa vida, são o resultado da nossa atitude mental habitual.
Nós nos relacionamos com o mundo dentro pela mente subconsciente. O plexus solar é o órgão desta mente. O sistema simpatizante de nervos preside em cima de todas as sensações subjetivas, como alegria, medo, amor, emoção, respiração, imaginação e todos os outros fenômenos subconscientes. Está determinando no subconsciente que nós estamos conectados com a Mente Universal e trouxemos em relação com as forças construtivas Infinitas do Universo.
É a coordenação destes dois centros do nosso ser, e a compreensão das funções deles que são o grande segredo de vida. Com este conhecimento nós podemos unir as mentes objetiva e subjetiva em cooperação consciente, e assim podemos coordenar o finito e o infinito. O nosso futuro está completamente dentro do nosso próprio controle. Não está à mercê de qualquer capricho, ou de algum poder externo!
Meu carinho
Fantástico texto, Marcos! É como se você estivesse dentro de minha mente, descrevendo os vários sentimentos ao passar pelas portas dessa casa imaginária... Aprender a lidar com a perda, eu penso que é a porta mais difícil de abrir.
Obrigada por oferecer alguns momentos de reflexão.
Meu afetuoso abraço,
Yolanda

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